Page 17/365

Olha para mim. Os meus cabelos tingidos de uma cor que não existe, que criei com uma mistura de cores de primavera e retrata aqueles que já não estão neste mundo e aquela que por cá ficou. Mentira, eles ainda continuam vivos neste mundo, num lugar invisíel aos teus olhos. Mas eu, quando respiro, quando me dou conta que o ar existe e ainda circula nos meus pulmões, sei que continuam aqui comigo. Somos o mesmo ar que respiramos, o mesmo fogo que nos queima, a mesma água que nos purifica e, no fundo, somos a mesma terra. Sim, somos a mesma terra. Não são lindas as flores e as plantas que fazemos germirar? São. A chuva que cai do céu e as lágrimas que caiem dos meus olhos. Ainda te lembras dos meus olhos? Por acaso do meu abraço, do aperto da minha mão? 

Eu sei que estás aí, como um animal encolhido num canto com medo de ser descoberto. A observar tudo à sua volta, para não deixar escapar o mais infimo promenor, o mínimo passo da sua presa. Pronto para atacar, desencolher-se e fazer-se grande, o maior de todos. Mas a fome voltará sempre e presa nem sempre será alcançada. Espera. Não és um animal. És tu, com conceitos e palavras diferentes que se podem adequar a ti. Podes continuar aí, quem sabe a observar-me secretamente através das paredes, saber tudo o que faço e até ver-me nua. Uma conclusão é certa, continuarás a não saber absolutamente nada de mim nem do que vai acontecer a seguir. 

Que ironia! (...) O ponto fraco de quem segue alguém é nunca pensar que pode estar a ser seguido. 
H.M.

Estende esse corpo num sítio confortável e sonha comigo: estamos de mãos dadas a caminhar por uma vereda desconhecida, sem pressa. Nessa longa caminhada, há momentos de "olhos nos olhos", "lábios nos lábios", somos a mesma terra. A vereda não tem fim e certamente morreremos com as mãos coladas a meio do caminho da eternidade. Se eu morrer primeiro, serás capaz de criar uma cor que não existe e tingir com ela alguma parte do teu corpo, mesmo sabendo que isto não passa de um sonho e estás adormecido?

Acorda. Recorda-te de tudo. Só quando te sentires capaz de criar a cor dos teus sonhos e infiltra-la em ti por mim saberás quem sou. Seremos um só.

Sem comentários:

 
Designed by Lena Header image by Vladstudio